Sindicato: Para quê e para quem?

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O cotidiano da categoria dos Técnicos de Nível Superior – TNS das Instituições Federais de Ensino Superior – IFES tem sido marcado por profundas transformações que ocorreram ao longo das últimas duas décadas. Os avanços no processo de ensino e aprendizagem e as inovações tecnológicas ocasionaram mudanças na organização do trabalho, tendo como consequência o surgimento de uma nova classe trabalhadora com elevado nível de formação para o trabalho e alta qualificação. Nessa reestruturação produtiva, o conhecimento do indivíduo é um fator da maior relevância, o que também tem gerado, entre outros aspectos, arranjos inovadores no espaço de produção das IFES e, consequentemente, na divisão do trabalho. Portanto, este novo padrão produtivo criou um ambiente de trabalho complexo e de mutação contínua. É nessa conjuntura, complexa e marcada por uma dinamicidade que modifica e remodifica a realidade que se apresenta para o indivíduo, que o sindicato não aparece, aos olhos dos TNS, como um elemento articulador. Ele é visto como um espaço em que sobressai a contenda medíocre entre correntes pela preservação de nichos de poder. O sindicato dobrou-se sobre si, e os efeitos dessa luta são sentidos na categoria pela ausência da entidade sindical nas questões cotidianas da classe.

Os Técnicos de Nível Superior, dessa forma, abandonaram os discursos vazios e desconectados com a realidade e tomam três posições básicas: afastam-se definitivamente de qualquer forma de organização coletiva e voltam-se para o seu “fazer cotidiano”; aceitam o status quo, mas ficam alheios à participação “escolhendo” os contendores e dando-lhes “apoio passivo”; entram no movimento e passam, talvez por falta de opção, a fazer parte do “mundo sindical”.

A ultrapassagem dessa forma pouco racional de se construir um movimento sindical, não se dará a partir dessas correntes e/ou dessas castas dirigentes que carregam dentro de si uma “lógica” de fazer política, ossificada numa percepção ultrapassada que supõe o sindicato voltado para si mesmo.

Ultrapassar significa construir uma nova organização, horizontal, descentralizada, efetivamente plural, que permita o convívio entre as diversas opiniões, que crie novas formas de interação política com a categoria, que dê mais atenção às demandas saídas dos locais de trabalho, que conviva com os partidos e com a sociedade, sem, no entanto, assumir o já desgastado papel de caixa de ressonância dos partidos. Não há dúvida de que, nesse ambiente em permanente transformação, o Sindicato Nacional é a organização que melhor pode iniciar o processo de reaproximação com a categoria.

Novos rumos estão sendo propostos para a representação sindical. Agora, devemos caminhar para a construção de um Sindicato Nacional dos TNS das Instituições Federais de Ensino Superior, com efetiva representação da categoria, inserção e reconhecimento na comunidade acadêmica. Este novo sindicato, ao mesmo tempo em que defende os interesses trabalhistas dos Técnicos, também se preocupa com o aprimoramento da interlocução com o governo e as administrações das Universidades Federais, propiciando uma relação politicamente equilibrada e de respeito mútuo, bem como com a luta por remunerações dignas e compatíveis com a importância social dos TNS.

É um momento significativo, pois estamos diante de um processo decisório dos TNS na busca por construir uma entidade que volte a colocar a categoria como eixo central de sua linha de ação.

Pautada pelo equilíbrio e comprometida com a construção de um movimento efetivamente democrático, plural, propositivo e voltado à defesa dos direitos da categoria, a comissão Pró-Fundação do Sindicato Nacional considera importante a criação de uma entidade que aponte para um sindicalismo responsável e que coloque a negociação como eixo central de sua tática política.

A ampla liberdade de associação dos Técnicos de Nível Superior das IFES e a unidade dos trabalhadores na sua luta por uma sociedade justa, plural e soberana, mantendo-se autônoma diante de todos os agentes políticos, inclusive o Estado e o aparelho estatal, é uma necessidade. O movimento dos trabalhadores, especificamente dos TNS, deve ser pautado pela concretização de seus interesses.

Ao defender o direito de cada técnico tomar o posicionamento político que lhe for mais conveniente, a Comissão Pró-Fundação do Sindicato Nacional considera positivo esse novo movimento e espera que, de forma equilibrada, o debate seja conduzido de modo que desemboque em novos rumos para a categoria.